segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
O MÉTODO DALCROZE COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO NA
ESCOLA PÚBLICA
Guilherme dos Reis
Julie Christie Caglioni
RESUMO
O presente artigo estabeleceu uma relação entre a Metodologia de Jaques-Dalcroze e a Educação
Inclusiva. O primeiro propôs um método de Educação Musical denominado Rítmica, utilizado com
êxito em cursos de Teatro, Dança, Música e Educação Física. A segunda, que seria a capacidade da
escola para atender a diversidade total das necessidades dos alunos, teoricamente é aplicada,
porém, na prática ainda se encontra no início de sua jornada. A Pedagogia Dalcroziana, ao
trabalhar corpo e mente paralelamente por meio da experiência do ritmo, do solfejo e do
improviso, conduz a uma maior percepção de si mesmo e do outro. Sabendo que a Educação
Inclusiva acarreta mudança de paradigmas, e que os limites de cada educando devem ser
respeitados, a sua fusão com o Método Dalcroze tende a ser profundamente construtiva no
desenvolvimento motor e cognitivo, adicionado à visão da diversidade como algo positivo.
Acreditando que os exercícios propostos aumentam também a autoconfiança e a autoestima,
consideramos que seria fundamental colocarmos em prática um projeto que nasceu durante
nossas pesquisas. Denominado “Dalcroze na Escola”, será realizado em uma escola pública.
Tomamos esta decisão porque trata-se de um lugar onde a multiplicidade física, social, cultural e
étnica está amplamente presente, e a acessibilidade a meios coadjuvantes na educação, nem
tanto.
Palavras-chave: Dalcroze. Educação Inclusiva. Rítmica. Dança.
INTRODUÇÃO
Como um pedagogo musical nascido no final do século XIX poderia nos auxiliar na superação
dos desafios da educação inclusiva? Nascido em 1865 na Áustria, Emile Jaques-Dalcroze não se
conformava com a maneira mecânica e estéril com que seus alunos aprendiam música, então
propôs exercícios que fizessem com que o aprendizado passasse pela experiência corporal. Abriu
as portas para as inovadoras pedagogias musicais que surgiram na primeira metade do século XX
e, por consequência, seus métodos têm grande aceitabilidade também na Educação Inclusiva.
Sua metodologia leva o ser humano a descobrir e desenvolver as próprias capacidades artísticas
através da sensibilidade e sensorialidade, por meio de atividades corporais que o fazem vivenciar
os elementos da linguagem musical. Dalcroze acreditava existir uma falha no método
convencional de ensino: o de centrar o conhecimento na mente do aluno, quando o cérebro e o
corpo são desenvolvidos paralelamente e um está constantemente a comunicar suas impressões e
sensações ao outro. Tomava o corpo como dispositivo receptor e transmissor, no qual se
desenvolve e estimula os canais de percepção auditivos, visuais e/ou táteis, o tempo, o espaço. “O
corpo é como uma orquestra, mas dirigida por dois chefes simultaneamente: o cérebro e a alma”
(Dalcroze, 1926).
O termo educação inclusiva pressupõe à estruturação da escola para atender a diversidade
total das necessidades dos alunos. Pode-se conseguir realizar tal intento por meio de um ambiente
físico e humano de aprendizagem escolar que tenha altas expectativas a respeito de seus alunos,
que seja seguro e acolhedor e que entenda a diferença como um fator positivo. A inclusão parte
da intenção de que cada um possa procurar a plenitude de seu existir, para participar ativamente
da construção de sua vida pessoal, tendo uma existência feliz e de qualidade. É importante
respeitar os limites do educando e desenvolver uma real integração social na comunidade em que
vivem.
Implica também em uma mudança de paradigmas, de conceitos e costumes, que fogem às
regras tradicionais, ainda fortemente calcadas na linearidade do pensamento, do primado do
racional e do ensino como mera transferência dos conteúdos curriculares. A inclusão busca
remover as barreiras impostas pela exclusão em seu sentido mais global. É nesse sentido que
abordamos a importância da Pedagogia Dalcroziana como instrumento inclusivo extremamente
útil na escola pública, local onde todos são aceitos, mas nem sempre estimulados em todo o seu
potencial. Para Sassaki, inclusão é:
“Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir
em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades
especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus
papeis na sociedade.”(SASSAKI, 1997)
Sendo a música e a dança formas de linguagem universais, com efeitos benéficos incontestáveis
na generalidade das pessoas, intentamos, com esta pesquisa, levar à reflexão sobre sua ação em
indivíduos com necessidades especiais, inclusive com dificuldade de comunicação. Também
almejamos constatar se os efeitos do método Dalcroze são significativos como meio auxiliar para
melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, independentemente de ter deficiência,
mobilidade reduzida, doenças mentais ou nenhuma dessas condições.
Objetivando apresentar o Método Dalcroze e sua contribuição para a arte, a educação e a
inclusão social, pretendemos demonstrar a efetividade da linguagem musical e do movimento
corporal como meios auxiliares para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional; propor
atividades que despertem a consciência corporal, a comunicação, a socialização e auxiliar o leitor
na compreensão de que corpo e mente se desenvolvem paralelamente, portanto devem ser
fomentados juntos.
CONHECENDO DALCROZE
Durante os séculos XIX e XX, a educação musical passou por muitas modificações, com
contribuição de diversos autores, como Orff, Kodaly, Willems, Koellreuter, Schafer, Paynter e
Dalcroze. Este último, nosso objeto de estudo, nasceu em Viena, na Áustria, em 1865 e faleceu em
1950.
Emile Jaques-Dalcroze, filho mais velho dos suíços Jules Jaques e Julie Jaulin, iniciou seus
estudos de piano aos seis anos de idade, e com dez anos mudou-se com a família para Genebra,
na Suíça. Dois anos depois foi admitido no Conservatório local. Terminando os estudos
secundários em 1883, tornou-se ator de teatro. Entre 1884 e 1890 viajou para Paris, Argélia (onde
teve contato com a música árabe) e Viena, com o objetivo de realizar apresentações artísticas e
estudar. Retornando à Suíça em 1891, foi convidado a participar da Academia de Música de
Genebra, como responsável pela disciplina de História da Música, e em 1892 foi nomeado
professor de harmonia e solfejo. Destarte, deu início a seus experimentos que resultaram no seu
sistema de educação musical, utilizado até hoje por músicos, atores, bailarinos e professores
(MARIANI, 2012).
Segundo ele, os alunos recebiam um preparo auditivo precário e por isso não conseguiam
identificar o som dos acordes. Conectado às transformações que haviam no campo das artes,
desenvolveu gradualmente um método de educação musical baseado no movimento, onde o
aprendizado ocorre por meio da música e pela música, através da escuta ativa. Objetivava fazer o
aluno experimentar e sentir, para somente depois dizer “eu sei”. Acreditava que a fusão entre a
música e o gesto é essencial e, em sua metodologia, propôs o rompimento da dicotomia corpomente.
Sendo sua ideia desprezada pela sociedade de Genebra, Dalcroze abriu seu próprio estúdio
para dar continuidade às suas experiências. Seu trabalho foi reconhecido somente em 1905,
quando um grupo de empresários montou para ele uma escola em Hellerau, na Alemanha. Então
veio a Primeira Guerra Mundial, e Dalcroze voltou à Suíça, onde finalmente suas ideias foram
compreendidas e admiradas.
O Método Dalcroze
O sistema de educação musical desenvolvido por Dalcroze é conhecido como Rythmique, cuja
finalidade é criar, através do ritmo, uma corrente de comunicação rápida, regular e constante
entre o cérebro e o corpo, transformando o sentido rítmico em uma experiência corporal. Sua
pedagogia foi inicialmente conhecida como Ginástica Rítmica e, posteriormente, como a Rítmica
ou a Euritmia.
Costumava utilizar em suas aulas uma linguagem semelhante à empregada no teatro e na
dança, no qual os pilares TEMPO – ESPAÇO – ENERGIA desempenham importante papel para a
compreensão corporal. Segundo a educadora Silvana Mariani (2012 p.13):
“As três ferramentas básicas do Método Dalcroze são a rítmica, o
sofejo e a improvisação. A Rítmica propicia a interação das
faculdades mentais, favorece a memória e a concentração,
estimulando a criatividade. O solfejo consiste em reconhecer o
desenho melódico da melodia independente da altura, portanto é
relativo. A improvisação é o momento criativo em que o aluno
demonstrará suas próprias ideias musicais e os conteúdos
assimilados. ”
Em 1915 foi fundado o Instituto Dalcroze em Genebra, um importante centro de formação de
professores, difundindo as propostas de seu mestre. Oferece cursos de Rítmica para pais e
crianças a partir de três anos de idade. Também dispõe de cursos de Rítmica, Solfejo e
Improvisação para adultos, Bacharelado em Artes e Pós Graduação em Metodologia Dalcroze. No
Brasil, o método foi implantado em 1937, no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro.
Entre os atuais professores especializados, destaca-se Iramar Rodrigues, brasileiro naturalizado
suíço que ministra cursos, oficinas e encontros de educação musical.
O estudo da Metodologia Dalcroziana está presente também nos conteúdos programáticos e
ementas em cursos de Licenciatura em Música, Dança, Teatro e Educação Física.
Dalcroze e a Dança
Um dos propósitos da Rítmica na Pedagogia Dalcroze é levar o ser humano a descobrir e
desenvolver suas próprias capacidades artísticas através da sensibilidade e sensorialidade. Tal fato
se dá por meio de atividades corporais que o levam a vivenciar os elementos da linguagem
musical, tornando o corpo um instrumento receptor e transmissor, desenvolvendo e estimulando
os canais de percepção auditivos, visuais, tátil; bem como o tempo, o espaço, a energia.
Sendo a Rítmica o centro da Metodologia Dalcroziana, e observando que as primeiras
experiências musicais são de origem motora, subentende-se que é de grande importância para a
dança. Ambas têm em comum a participação do corpo e da mente. A escuta ativa gera consciência
rítmica, propicia a integração das faculdades sensoriais, afetivas e mentais. O solfejo também tem
sua importância, uma vez que através do reconhecimento das melodias ascendentes e
descendentes pelo movimento corporal, desenvolve-se a consciência musical juntamente com a
coordenação motora ampla e fina. A improvisação, momento em que o aluno cria suas próprias
ideias musicais, se adaptada à dança, o auxilia a se expressar, a utilizar a técnica juntamente com o
sentimento. Sentindo a música, dança-se com o corpo, o cérebro e a alma.
Os exercícios propostos por Dalcroze são realizados com diferentes estímulos musicais que
partem, originalmente, do piano e da voz, podendo-se utilizar os instrumentos que estiverem ao
alcance do professor, desde que proponha situações diferentes, onde o aluno caminha e realiza
outras atividades ao mesmo tempo, estimulando a atenção e a concentração, que se desenvolvem
por meio da memória motora, integrando o cérebro, a visão, a audição e tudo o que puder
permear a atividade. Desse modo, o conhecimento já está presente no processo, e não
simplesmente no resultado final. A educação do corpo ajuda a lidar com os problemas rítmicos, e
paralelamente à vertente musical, o aluno desenvolve também a dança, dado que ao focar a
atenção, a concentração se eleva cada vez mais.
Jaques Dalcroze, interessado na natureza psicofísica e musical do ser humano, comentou,
analisou e criticou a dança. Ele via a dança como uma atividade que promove o estado de alerta e
a graciosidade, e a Rítmica como um cultivo da mente, do corpo e do espírito. Dizia que a dança
teria que aproximar-se da música, pois:
“O bailarino deveria ser dotado de musicalidade e da capacidade
de tornar os ritmos sonoros visíveis para então recriar a música
plasticamente. As capacidades imaginativas e emotivas governam a
habilidade rítmica e motora, pois dançar é a arte de expressar
emoções por meio de movimentos corporais rítmicos (Dalcroze,
1921 p. 176). ”
Em sua concepção, não era oferecido treinamento musical suficiente aos bailarinos, o que lhes
causava lacunas profundas e expressivas. Afirmava que era fundamental que se considerasse, na
arte da dança, a unidade que engloba corpo plástico e ritmo musical. Por meio do que denominou
como ritmo plástico, o bailarino acessaria elementos do espaço, do tempo e da dinâmica
muscular.
Um dos exercícios que propôs para a educação musical dos bailarinos foi o “caminhar no
tempo”. Como um metrônomo natural, o passo regular é a base para inúmeras variações rítmicas,
levando o bailarino a aprender a caminhar no tempo, variar velocidades e reprimir movimentos.
Introduziu o exercício corporal da polirritmia, pela variação da dinâmica e da agógica, variações de
intensidade e velocidade respectivamente. Propunha treinar não apenas os músculos. Mas
também a sensibilidade e a inteligência musicais. Como prova de que os exercícios dão certo,
temos três alunas de Dalcroze que disseminaram seus princípios na dança: Suzanne de Perrottet
(1889-1983), a bailarina expressionista Marie Wigman (1886-1973) e Miryam Ramberg (1888-
1982).
Dalcroze e Educação Inclusiva
Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar contra exclusão, transpor barreiras que a
sociedade criou para as pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da
colaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de modo a decidir, por si mesmo,
como agir nas diferentes circunstâncias da vida. Mantoan (2003 p. 15) comenta:
“A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em
modalidade de ensino, tipos de serviço, grades curriculares. Uma
ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a
inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente,
espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam. ”
A inclusão de crianças com deficiência depende, além da estrutura física, de um trabalho
diferenciado do educador e de muitas ferramentas auxiliares. Propomos então, como uma
ferramenta auxiliar, a Metodologia Dalcroze. Este método, ao produzir, além de todos os
benefícios já mencionados, a integração social, remete à dinâmicas onde não existe o certo e o
errado. Tudo o que é trazido de dentro da pessoa floresce em seus jogos, naquela vivência onde
não há vencedores nem perdedores. Clises (2017) diz:
“Você faz de um jeito, eu faço de outro, a gente está vivendo, está
experimentando e um absorve do outro. O que é muito bom
sempre, expressar as nuances do som e as emoções. Então vai
melhorar a performance, a leitura musical, a escuta e a
improvisação. ”
Ao se valer da Metodologia Dalcroziana na Educação Inclusiva em escolas públicas, esse
“absorver” do outro é fundamental, porque não exige do cérebro uma coisa esperada, o aluno
precisa lidar com o inesperado durante o exercício todo. O tempo todo recebendo um estímulo
novo que dará a condição de se expressar à sua maneira diante do grupo e observar os colegas,
absorvendo. É uma troca constante.
A educação para a inclusão pede uma mudança na concepção do ato de ensinar. O ensino
focado na repetição há muito tempo é ruim para qualquer estudante, com deficiência ou sem. O
caminho é abordar os assuntos com base em aspectos variados, por meio de técnicas e recursos
que considerem os saberes prévios do educando, os quais estão presentes em toda a Metodologia
Dalcroziana. Seja por meio da música, da dança ou da Rítmica, os exercícios corporais por ele
propostos estão de acordo com esses critérios da Educação inclusiva.
A variação da experimentação e da criação em discussões, pesquisas ou trabalhos em grupo,
faz com que todas as crianças se sintam integradas e mais motivadas a aprender, e quanto mais
variados forem os instrumentos, melhor. Assim sendo, acreditamos que o Método Dalcroze é
instrumento de integração e motivação não apenas durante a atividade em si, mas com reflexos
positivos em todas as disciplinas e na vida pessoal e social.
Ao lermos sobre, constatamos que esta metodologia na educação inclusiva elimina a tão
prejudicial comparação entre os estudantes, levando-os a serem, inclusive, complementos um do
outro. Por exemplo: o cego pode ser os ouvidos do surdo, enquanto o surdo torna-se os olhos do
cego durante os exercícios; o estrangeiro e o brasileiro “falam” a mesma língua; e assim acontece
um aprendizado coletivo, onde todos entendem que precisamos um do outro para sobreviver, ao
mesmo tempo em que podemos desenvolver nossa própria autonomia. Cada um dá o melhor de
si, assim se constrói uma sociedade justa, com equidade.
NASCE UM PROJETO
Tendo em mãos esta gama de informações, nos demos conta de que a escola pública é uma
instituição que acolhe a todos, mas nem sempre dispõe de meios para trabalhar a tão necessária
equidade que deveria caracterizá-la. Surgiu a ideia de criar um projeto que, embora muito simples,
seja capaz de transformar o pensamento das pessoas, ao perceberem as diferenças como algo
positivo, que acrescenta. A diversidade é o que temos de mais real e concreto na humanidade, e
ao mesmo tempo é ignorada ou rejeitada por grande parte das pessoas. Dalcroze, ao desenvolver
uma metodologia para formar músicos melhores, o fez de forma tão intensa, sendo capaz de
formar também atores, bailarinos, cantores, estudantes, professores e cidadãos melhores e mais
conscientes.
Denominado “Projeto Dalcroze na Escola”, tem como público-alvo alunos e professores do
quarto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública. Nossa escolha de turma é pautada na
concepção de que a partir dos oito ou nove anos de idade, a criança já “está apta para
compreender conceitos mais abstratos e complicados” (Errico, 2016). Também porque, para um
projeto experimental, um número menor de crianças torna mais viável a sua execução e avaliação
dos resultados.
Consiste em oficinas de uma hora/aula uma vez por semana, no período de tempo de dois
bimestres, que culminariam com apresentações artísticas de rítmica e dança, baseadas nos
exercícios executados ao longo desses meses.
Para que tudo aconteça legalmente, será necessário primeiramente a aprovação e apoio
financeiro do mesmo pelos órgãos oficiais, obter autorização da escola e dos pais, organizar um
espaço na escola, que pode ser uma sala de aula, auditório ou quadra esportiva e preparar o
material necessário. Imprescindível também decidir junto à direção, docência e responsáveis, se as
oficinas serão realizadas em horário de aula ou no contra turno, caso haja transporte e
alimentação disponível para todas as crianças. Assim sendo, também deve-se verificar a
disponibilidade dos acompanhantes de quem destes necessitam. Só então será dado início à
execução do projeto.
Nesses encontros serão trabalhados exercícios de rítmica propostos por Dalcroze, que além de
divertidos e parecerem brincadeiras, podem ser realizados por todas as crianças, cada qual se
apropriando de suas possibilidades e descobrindo novas habilidades, novas formas de
comunicação, novas percepções de si mesmas, dos colegas e dos professores. Iniciarão de forma
leve, sucinta, e evoluirão de acordo com o andamento da turma, respeitando as individualidades
de cada um.
Esperamos que fora da escola, como consequência, estas percepções atinjam também o
convívio familiar e social. As trocas e a cooperação serão indispensáveis, levando a criançada a se
valorizar e a valorizar os colegas, percebendo que para a dinâmica funcionar será necessário
dispor das particularidades físicas, mentais, criativas e emocionais de cada um. O próprio Emile
Jaques-Dalcroze dizia que “não ouvimos a música só com os nossos ouvidos, ela ressoa no corpo
inteiro, no cérebro e no coração”. (Dalcroze, 1921).
Visando, desta forma, auxiliar nas questões de percepção, autoestima, cognição e muitas
outras já citadas, ao longo das oficinas faremos observações analíticas e colheremos depoimentos
dos envolvidos através de conversas informais, com a finalidade de verificarmos se houve o
esperado auxílio, se aconteceu o estímulo do corpo e da mente através da dança improvisada
pelos ritmos, assim apresentando melhoras na qualidade de vida pessoal, familiar, escolar e social
desses estudantes. Koellreuter (1978) exprime nossa intenção inclusiva e libertadora em sua fala:
“Sabemos que é necessário libertar a educação e o ensino artísticos
de métodos obtusos, que ainda oprimem nossos jovens e esmagam,
neles, o que possuem de melhor. A fadiga e a monotonia de
exercícios conduzem à mecanização tanto dos professores como
dos discípulos. ”
Exemplos de exercícios
A Prof.ª Dra. Enny Parejo propõe alguns exercícios do método Dalcroze em suas aulas (ILARI,
2011 p.40). Trazemos aqui a descrição de algumas atividades, adaptadas aos nossos objetivos, que
serão adequados conforme as necessidades educacionais de cada um. Adicionamos exercícios
observados em vídeos do Site Instituto Dalcroze, e criamos o seguinte cronograma com proposta
de um exercício para cada oficina, lembrando que deverão ter mais exercícios por aula, conforme
o andamento da turma:
Oficina 1 Andar ao ouvir a unidade de tempo pré-estabelecida no tambor, tocado
primeiramente pelo professor, e depois por um aluno de cada vez (pode ser um
metrônomo).
Oficina 2 Saltar ao ouvir a subdivisão da unidade de tempo no tambor (pode-se saltar em
arcos colocados estrategicamente no chão). O educador utilizará os instrumentos a
que tiver acesso. O importante nesse exercício é justamente o movimento e a
escuta ativa.
Oficina 3 Ao som de uma música instrumental, os alunos representam suas frases musicais
(trechos da música) e exploram o espaço através de movimentos corporais. É
importante lembrar que neste caso não é necessário pensar em frases da forma que
um músico pensa, e sim da forma que um leigo pode senti-la (sugestão nossa:
segurar lenços nessa atividade). O exercício pode ser feito em duplas de várias
maneiras: O movimento pode ser espelhado ou a dupla pode estabelecer uma
diagonal na sala e andar durante as frases.
Oficina 4 Em círculo, um grupo de pessoas, cada uma com uma bolinha nas mãos, passará a
bola de acordo com a pulsação da música que estão ouvindo. A princípio a bola é
passada no sentido anti-horário, e quando a música para, o sentido muda.
Oficina 5 Selecionar deferentes tipos de palmas. Exemplos: palma estrela, palma em concha,
palma com os dedos etc. Relacionar as palmas com alguns tipos de passos, passos
curtos, passos longos, lentos, rápidos. Também pode ser realizado com bastões,
baquetas ou pandeiro. Os pés acompanham o ritmo.
Oficina 6 Em círculo, com uma bola grande, bater, pegar, jogar para o alto e passar.
Oficina 7 Também em círculo, passar um objeto e ao mesmo tempo passas para o colega (visão
periférica).
Oficina 8 Em duplas, passar uma bola num pulso e pegar no outro.
Oficina 9 Todos em roda, e no centro apenas uma bolinha. O participante do meio vai passando
a bola, sempre deixando ela quicar no chão antes de chegar no colega, que deverá
devolve-la da mesma maneira.
Oficina
10
Percussão corporal acompanhando uma música. Trata-se de produzir sons utilizando
o próprio corpo como um instrumento musical.
Oficina Fazer movimentos com um lenço ou fita nas mãos e passar ao colega quando mudar
11 a frase musical. Os pés devem sempre acompanhar o ritmo.
Iniciar ensaios e preparativos para a apresentação final.
Oficina
12
Caminhar livremente pela sala. Cada vez que muda o andamento da música, parar
como estátua. Quando retorna o andamento anterior, voltar a caminhar.
Ensaio para a apresentação final.
Oficina
13
Dar dois passos para a frente no ritmo da música, e dois passos para trás nas pausas.
Ensaio e preparativos para a apresentação final.
Oficina
14
Em fila indiana, executar um movimento a cada trecho de música entoado pelo
professor: mudar de lugar na fila, dar saltos, movimentar braços ou pernas, apanhar
ou largar um objeto.
Ensaio para a apresentação final.
Oficina
15
Ensaio para a apresentação final.
Preparar o cenário.
Oficina
16
Ensaio geral.
Preparar o cenário e todo o local da apresentação.
Apresent
ação
Final
Após a apresentação, organizar e limpar o local.
Obs: O ritmo e complexidade das atividades aumenta na medida em que a turma evolui.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É com grande dificuldade que vislumbramos uma conclusão, visto que estamos diante de uma
pandemia, e não podemos reunir um grupo de crianças para colocarmos nosso projeto em prática.
Sabemos que atividades das mais diversas áreas estão sendo realizadas online, porém, iniciar do
zero exercícios corporais com alunos menores de 10 anos, à distância, é inviável. Até porque são
práticas novas para elas e que requerem, em muitos momentos, contato físico, trabalho em grupo
ou duplas, atenção individual e uma visão global do que está acontecendo durante a execução das
mesmas.
Os cegos precisam do toque, os surdos, sentir a vibração, os cadeirantes, de espaços que
comportem as cadeiras, que são extensões de seus corpos. Autistas poderiam se sentir
desconfortáveis com a poluição visual e voz metálica na tela, pessoas com síndrome de Down
precisam da afetividade presente no carinho e no abraço.
Os materiais, como arcos, bastões, bolas, lenços, também não estão ao alcance de todos, e
para o momento não há investimentos públicos neste sentido.
Ainda que nos arriscássemos, a conexão e processamento da Internet no país é instável. As
transmissões travam, caem, falham. Sem falar no Delay, (atrasos de transmissão) fator nada
conveniente em se tratando da Rítmica de Dalcroze. Ainda há um problema maior: o acesso à
Internet, celular, tablet ou computador, que infelizmente não é uma realidade para todos. E não
seria Educação Inclusiva se realizássemos o experimento somente com parte da turma.
Podemos afirmar que é um paradoxo constatarmos tal fato enquanto realizamos uma pesquisa
que envolve acessibilidade e inclusão. Portanto, a única conclusão a que chegamos é a de que
apesar de estarmos fazendo nossa parte, muito ainda precisa ser feito pela iniciativa popular e
pelo poder público para que a inclusão seja uma realidade em nosso país. A equidade nas
oportunidades, inclusive no âmbito escolar, precisa deixar de ser utopia.
Acreditamos que em breve possamos colocar nosso projeto em prática, dado que o
isolamento social é necessário no momento, porém não será para sempre.
REFERÊNCIAS
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20&linkCode=df0&hvadid=439975043021&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=10048107444870000792
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Vídeo com o resumo da apresentação do TCC:
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