Hoje é dia de
lembrar. Lembrar da minha primeira turminha, onde eu tinha que chegar
a pé, pois o ônibus não subia o morro. De quando vândalos
arrombaram tudo, levaram o material das crianças, espalharam cola
pela sala inteira, e ainda assim continuamos firmes e sorridentes. Os
anos foram passando, as turmas e escolas mudando, e cada vez mais
histórias acontecendo.
Dia de lembrar do
aluno do sétimo ano que entrou na sala uivando e fez todos cairem
na gargalhada, para representar a lenda da fundação de Roma. Da
menina que me perguntou se eu não trabalhava, só dava aulas. Da
menina que ficou mocinha durante a aula. Da quarta série que
enfeitou a sala inteira e se “escondeu” debaixo das carteitas
para me fazer uma surpresa de aniversário. Dia de lembrar do
menininho que encantou a escola inteira cantando o Hino Nacional com
a mão no peito, e depois viemos a saber que fez isso porque havia
derramado merenda na blusa. Dia de lembrar da garota com prótese na
perna que jogava vôlei, handebol e ia para a escola de bicicleta sem
nunca reclamar de nada. Do jovem que ia para a escola de fralda, por
causa de uma doença sem cura, do garoto que perdeu a mãe e mesmo
assim foi para a escola no dia segunte, da aluninha que sonhou que eu
era sua mãe, do cadeirante que me deu uma lição de vida, da surda
que conseguia comunicar-se comigo sem eu saber libras (hoje sei um
pouco).
Hoje é dia de
lembrar dos garotos com deficiência física e mental que não
faltavam um único dia, da lindinha que teve meningite e da que fez
uma delicada cirurgia. Dia de lembrar da galerinha que venceu a
competição de atletismo, da que não venceu, da que ganhou a
gincana, da que perdeu, dos teatrinhos e cantorias que até os mais
tímidos faziam com tanta dedicação e coragem. Dos passeios de
estudo, tão memoráveis e divertidos, das feiras de ciências, do
líder nato que apresentou nossa maquete para o prefeito. Lembrar da
mãe que queria me bater porque seu filho batia nos coleguinhas e eu
o deixei sem Ed. Física por uma única aula, das mães e pais que me
agradeceram pelo meu trabalho, dos que nunca apareceram. Dia de
lembrar da Jaque, que me chamava carinhosamente de “professora
mauquinha” e nos deixou tão cedo.
Dia de lembrar dos
adultos do supletivo, que tornaram-se meus amigos, que dividiam
comigo seus problemas, tornando-os mais leves, dos que me pediam
socorro em momentos de desespero, e dessa forma não sabiam o quanto
também me ajudavam.
Hoje é dia do
professor, dia que dedico a vocês, meus alunos, com quem tanto
aprendi e que me fizeram ser quem hoje sou.