quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Conheça a história do Papai Noel mais querido de Joinville!

   
Foto Maiara Bersch

arquivo pessoal
Quando não é Papai Noel, Aroldo da Silva veste jeans e camisa de gola polo num tom de azul muito vibrante. Quando não é Papai Noel, seu pulso esquerdo é adornado por um relógio preto de borracha. Quando não é Papai Noel, ele mora sozinho em um apartamento em Jaraguá do Sul, cuja cozinha é decorada com itens vermelhos.

Quando não é Papai Noel, Aroldo possui sete irmãos, três filhos homens, sete netos e três bisnetos. Quando não é Papai Noel, pratica Pilates em casa, caminha diariamente, assiste a filmes que compra em locadoras falidas. Quando não é Papai Noel, seu passatempo são equipamentos eletrônicos, como o celular e o Kindle que comprou recentemente.

Quando não é Papai Noel, ele não gosta de chuva, nem da areia da praia. Mas estamos em dezembro. Neste mês, no lugar de Aroldo, respira o Bom Velhinho. Agora que é Papai Noel, a cabeça fica encoberta por uma touca de cetim emoldurada por um tecido branco fofinho. É Natal, e Aroldo vira Papai Noel.

Aos 69 anos, faz sete que o aposentado se tornou o Papai Noel do Shopping Mueller, em Joinville. Antes disso, bem no início do novo milênio, a ideia cruzou a mente dele, tão rápido quanto sua esposa, Wally, pudesse dizer que não queria saber de barba comprida.

Em nome do amor, Aroldo esqueceu o pensamento. Mas o tempo dissera que a presença de sua amada no mundo estava por se findar brevemente. Após um período doente, nos últimos meses de 2006, Wally se despediu do companheiro com quem dividiu a vida por 42 anos.

Com o coração nos cuidados que precisava dispensar à mulher, Aroldo perdeu peso e, sem planejamento, a barba tomou conta do seu rosto. Quando estava para completar um ano da morte da esposa, decidiu se livrar dos fios brancos e deixar à mostra a face rosada. Até que o neto Ricardo _ único garoto da prole _ interveio. A sugestão do menino: "Vovô, por que você não vira Papai Noel?"

—Estava bastante fragilizado com a morte da minha esposa. O Bom Velhinho veio como uma graça para mim—, revela Aroldo.

No primeiro ano como Noel, quando trono ficava no terceiro piso do shopping, ele observou uma menininha subir as escadas rolantes correndo, empolgada, com os bracinhos no ar. Quando o enxergou, ficou parada por um instante e então saiu correndo na direção de onde tinha vindo, apavorada. Nada mais espontâneo e engraçado, considera o aposentado.

—Elas são muito naturais. O que me move a fazer isto é a alegria de estar com as crianças. Me cativa ver a riqueza que expressam no olhar e no sorriso.

Geralmente, segundo Aroldo, os meninos costumam chegar olhando as mãos do Noel à procura de balas, enquanto as garotinhas ficam no colo, curtem o velhinho. A garotada, muitas vezes, vem programada de casa: "Boa tarde, Papai Noel, eu te amo. Fui muito comportada neste ano e quero ganhar tal coisa". Pelo trono do idoso de vermelho, também passam muitos adultos, inclusive pedindo conselhos sobre seus filhos.

—Alguns pais confidenciam que a criança não está obedecendo, não quer estudar. Às vezes, preciso ser duro, rígido, porque eu me preocupo com a realidade deles em casa. Aí, tem pais que ficam bravos, dizem que dou lição de moral—, explica.

O carinho, no entanto, é muito maior do que as intempéries. Em 2013, emocionou-se com a visita de duas jovens mães e seus bebês, os dois deficientes físicos.

—Uma das crianças, tive que tomar no colo com cuidado extra para não machucar. O modo como as mães saíram vibrando com a beleza dos filhos após ver as fotos deles, isso me emocionou— conta, com as lágrimas rolando por seu rosto redondo.

Com lencinho branco de pano, seca a face molhada por baixo dos óculos de aro azul escuro. Alguns anos atrás, chegou no trono um menino com cerca de dez anos de idade em uma cadeira de rodas. O pai colocou o garoto no colo de Aroldo. Apesar de magrinho, o Noel teve dificuldades de se ajeitar na poltrona de veludo.

—Na hora, pensei que estava com o próprio Cristo no colo. Isso me veio no pensamento, o que senti era o peso de tanto sofrimento.

Além da emoção, o Bom Velhinho passa por algumas enrascadas de tempos em tempos. Uma garota perguntou, certa vez, como o Papai Noel percorre todo o mundo em uma noite e ainda presenteia todas as crianças. Também tem aqueles que indagam onde estão as renas e os duendes.

—Digo que a névoa que cerca as estrelas é um pozinho que mostra o rastro por onde passei. E que a noite de Natal é diferente da outras, muito mais longa—, diverte-se.

Entre os pedidos mais inusitados, estão vacas, cavalos ("de pelúcia, né?", perguntou Aroldo) e, neste ano, um pônei. Tem criança que faz pedido engraçado. Uma garotinha queria que Papai Noel dLuan Santana a Joinville, por exemplo. Outros dois meninos, após explicarem como funciona um jogo em inglês que adoram ao Noel, perguntaram quem seria o vencedor.

—Eles pensam que sou vidente—, diz Aroldo, às gargalhadas.

Aposentado na área de marketing, sua maior frustração é não ter um diploma. Mas ele garante que ainda vai cursar faculdade de design de produto para melhorar a vida das pessoas. Às vezes, o desânimo bate e ele pensa em deixar o posto do velhinho mais querido do pedaço. Apesar de ajudar a movimentar o comércio, o que o Bom Velhinho quer mesmo é que o Natal seja sentimento.

— Papai Noel não é uma coisa física, é uma crença, um imaginário. Eu acredito em Papai Noel.

A última véspera de Natal que passou com a família completa foi em 2005. No ano seguinte, após a morte da esposa, celebrou com um dos filhos na casa dos sogros dele, no Rio Grande do Sul. No Mueller, Aroldo termina sua função às 17 horas do dia 24 de dezembro. Das 18 horas ao badalar da meia-noite, neste Natal, ele visitará sete famílias em Joinville. Uma delas é acompanhada pelo Noel desde 2007. E dia 25, o que faz o Noel?

—Sou Aroldo da Silva e almoço com minha mãe, meus irmãos e minha família.
 
arquivo pessoal
arquivo pessoal
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Fonte: A Notícia 23-12-2013 (Tuane Roldão)